quarta-feira, 28 de julho de 2010

Novo presidente dos Correios vem do governo do DF

BRASÍLIA - O ministro das Comunicações, José Artur Filardi, anunciou nesta noite o novo presidente dos Correios: David José de Matos. Ele foi funcionário da Eletronorte por 26 anos e nos últimos anos estava ligado a funções do governo do Distrito Federal. Os últimos dois cargos que Matos ocupou no governo distrital foram a presidência da Agência Reguladora de Águas e Saneamento do DF (Adasa) e a Secretaria Geral da Novacap (Companhia Urbanizadora de Brasília).


O novo diretor de Recursos Humanos dos Correios é Nelson Luiz Oliveira de Freitas e para o cargo de diretor de Operações dos Correios, vago desde o mês passado, será nomeado Eduardo Artur Rodrigues Silva. A função estava sem diretor desde o dia 17 de junho, quando o então diretor Marco Antônio Oliveira foi demitido.

O ministro afirmou que as demissões não são consequência das recentes denúncias acerca de hot site da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) - já retirado do ar - que dava dicas aos candidatos às eleições de outubro como fazer campanha usando mala direta. Ele negou também que seja uma decisão política. "O motivo é que estava sendo estudada pelo governo a necessidade de dar uma oxigenação nos Correios".

Segundo Filardi, a decisão é "administrativa", em consequência das frequentes reclamações sobre o atraso das correspondências e encomendas nos últimos meses. Ele reconhece que esse serviço até melhorou nos últimos dois meses, mas o governo entendeu "que seria a hora de mudar a administração".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu hoje o presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio, e o diretor de gestão de pessoas da estatal, Pedro Magalhães Bifano, para tentar por um ponto final na crise que tomou conta da estatal. O encarregado por informar Custódio de sua demissão foi o ministro das Comunicações. Já a saída de Magalhães Bifano foi confirmada pela assessoria de imprensa da Casa Civil.

A bola nas costas do Índio da Costa



Aparentemente inebriado pela fama repentina, o aprendiz de feiticeiro (ou aprendiz de Demo?), Índio da Costa, acabou por arranjar um prejuízo que a campanha presidencial da direita não precisava, numa hora destas. A Dilma ganhou na Justiça Eleitoral o direito de publicar, no site do PSDB, uma resposta sobre as calúnias que o rapaz andou falando, sobre ligações entre o PT e o narcotráfico.


A nota da campanha petista vai ficar postada por dez dias no site tucano, o que, se por um lado não terá grandes influências junto ao eleitorado (acredito que aqueles que acessam o tal site devem ser tucanos ou demos, e não trocarão de candidato apenas por isso), por outro lado é um baita dum mico.


Veja a notícia completa aqui, no Amigos do Presidente Lula.


A charge é de Pelicano, e eu pesquei no Vermelho.
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A esquerda ganha quando se une

A esquerda ganha quando soma, une


Fidel foi sempre quem mais bateu nessa tecla. Contra os dogmatismos, os sectarismos, os isolacionismos, ele sempre reiterou que “a arte da política é a arte de unificar”, que a esquerda triunfou quando soube ganhar setores mais amplos, quando unificou, quando soube desenvolver políticas de alianças.


Foi assim que os bolcheviques se tornaram maioria, ao apelar aos camponeses para que tomassem as terras, realizando seu sonho secular de terra própria, mesmo se isso parecia estar em contradição com os interesses do proletariado urbano, que se propunha a socializar os meios de produção.


Foi assim na China, com a aliança com setores do empresariado nacional, para expulsar o invasor japonês e realizar a revolução agrária. Foi assim em Cuba, quando Fidel soube unificar a todas as forças antibatistianas para derrubar a ditadura. Foi assim na Nicarágua, com a frente antisomozista organizada pelo sandinismo.


Como se trata de políticas de alianças,é preciso perguntar-nos sobre os limites dessas alianças e como se conquista hegemonia nessas alianças.


A arte da construção da uma estratégia hegemônica está, em primeiro lugar, em organizar solidamente as forças próprias, aquelas interessadas profundamente no projeto de transformações da sociedade. No nosso caso, de superação do neoliberalismo e de construção de uma sociedade justa, solidária, democrática e soberana.


O segundo passo é o de construir alianças com forças próximas, no nosso caso, com setores médios da sociedade, que tem diferenças com a grande massa popular, mas que podem somar-se ao novo bloco hegemônico, conforme as plataformas que se consiga elaborar.


Organizadas as forças próprias, somadas as aliadas, se trata de neutralizar as forças que não se somariam ao nosso campo, buscando isolar ao máximo as forças adversárias. Essa a arquitetura que pode permitir a vitória da esquerda, a organização do campo popular e a constituição de um novo bloco de forças no poder.


O sectarismo, o dogmatismo são caminhos de derrota segura. Afincar-se nos princípios, sem enfrentar os obstáculos para construir uma força vitoriosa, é ficar de bem consigo mesmo – “não trair os princípios”, defender a teoria contra a realidade -, centrar a ação na luta ideológica e não nas necessidades de construção política de uma alternativa vitoriosa. O isolamento e a derrota dessas vias no Brasil é a confirmação dessa tese.


Em uma aliança se perde a hegemonia quando se cede o essencial ao aliado, na verdade um inimigo a que se converte quem concede. FHC aliou-se ao então PFL, não para impor o programa do seu partido, mas para realizar o programa da direita – o neoliberal. Nessa aliança se impôs a hegemonia neoliberal. Uma força que se pretendia social democrata realizou um programa originalmente contraposto à sua natureza.


Lula fez uma aliança ampla – não apenas com o PMDB e outros partidos -, mas também com o capital financeiro, mediante a Carta aos brasileiros, o Meirelles no Banco Central e a manutenção do ajuste fiscal e do superávit fiscal, conforme as orientações levadas a cabo por Palocci. Neutralizou forças adversárias, que ameaçavam desestabilizar a economia, mediante ataque especulativo que já havia dobrado o valor do dólar durante a campanha eleitoral.


Ao longo do tempo, com as transformações operadas no governo, a hegemonia do projeto original do Lula foi se impondo. O tema do desenvolvimento passou a ser central, com um modelo intrinsecamente vinculado à distribuição de renda, ao mesmo tempo que a reinserção internacional se consolidou, privilegiando alianças com os governos progressistas da América Latina e com as principais forças do Sul do mundo. O Estado, por sua vez, voltou a ter um papel de indutor do desenvolvimento e de garantia das extensão das políticas sociais.


Os aliados políticos e econômicos continuaram a ter força e a ocupar espaços dentro do governo. A maioria parlamentar do PMDB ficou representada na política do agro negócio, os interesses do setor privado de comunicações, assim como os das FFAA – em três ministérios importantes no governo. Da mesma formal, a centralidade do capital financeiro no neoliberalismo garantiu uma independência de fato do Banco Central.


Esses espaços enfraqueceram a hegemonia do projeto original, mas permitiram sua imposição no essencial. O agronegócio teve contrapontos no Ministério de Desenvolvimento Agrário, a política de comunicações em iniciativas como a TV Brasil e a Conferencia Nacional de Comunicações, as FFAA no Plano Nacional dos Direitos Humanos, o Banco Central em ações indutoras sobre a taxa de juros e no papel determinante que políticas com o PAC, o Minha casa, minha vida.


As fronteiras das alianças e a questão da hegemonia provocaram tensões permanentes, pelos equilíbrios instáveis que provocam essas convivências. Mas, como se sabe, sem maioria no Congresso, o governo quase caiu em 2005. A aliança com o PMDB – com as contrapartidas dos ministérios mencionados – foi o preço a pagar para a estabilidade política do governo.


Um dos problemas originários do governo Lula foi que ele triunfou depois de uma década de ofensiva contra o movimento popular, que passou a uma situação de refluxo, tendo como um dos resultados a minoria parlamentar e de governos estaduais com que o governo Lula teve que conviver, mesmo depois da reeleição de 2006.


Por isso uma das disputas mais importantes este ano é o da correlação de forças no Parlamento, para garantir para um governo Dilma uma maioria de esquerda no Congresso, com dependência menor ali e na composição do governo. Assim se disputam os limites das alianças e a hegemonia.


Diferença fundamental na política de alianças de FHC e de Lula é a questão da hegemonia, da política levada adiante. A prioridade das políticas sociais – que muda a face da sociedade brasileira –, a nova inserção internacional do Brasil, o papel do Estado e das políticas de desenvolvimento – dão o caráter do governo Lula. As alianças devem viabilizar sua centralidade. A correlação de forças das alianças está em jogo nas eleições parlamentares deste ano.


Foi um governo em permanente disputa, com duas etapas claramente delineadas (Veja-se o artigo de Nelson Barbosa no livro “Brasil, entre o passado e o futuro”, organizado pelo Marco Aurélio Garcia e por mim, publicado pela Boitempo e pela Perseu Abramo.), com o ajuste fiscal predominando na primeira, o desenvolvimento econômico e social na segunda.


A coordenação do governo realizada pela Dilma representou exatamente essa segunda fase, de que o seu governo deve ser continuação. O que não significava que as tensões apontadas não permaneçam. Mas elas podem ser enfrentadas numa correlação de forças mais favorável à esquerda e em um marco de uma nova grande derrota da direita, que abre espaço para um avanço estratégico do projeto de construção de uma sociedade justa, solidária, democrática e soberana.


*Emir Sader
Publicado em Carta Maior