Nas últimas semanas, mesmo os mais desavisados, por força da grave crise que se abateu sobre o sistema financeiro americano e que se alastra mundo afora, estamos redimensionando nossos “corações e mentes“ a fim de conseguirmos tornar mais próximo de nossa realidade as cifras astronômicas desta crise. As centenas de bilhões de dólares e até os trilhões que especialmente o tesouro americano, por meio do FED, assim como o Banco Central Europeu injetaram e, continuarão a injetar, nos próximos meses, nos bancos privados, indicam que essa crise que sepultou definitivamente o liberalismo econômico, não será de curto prazo.
Alguns analistas, por óbvio e, acertadamente, afirmam que a maior de todas as dificuldades a ser enfrentada, é a escassez do crédito, isso de certa forma, à medida que os estados nacionais( ao deixarem de lado seus dogmas e renegando seus oráculos), estão a intervir fortemente no sistema financeiro privado, via transferência direta de recursos públicos e, da compra de ações e carteiras de créditos de bancos em situação pré-falimentar, estão superando, sim, esse momento agudo de falta liquidez do sistema.
Entretanto, superado as dificuldades de crédito, é chegada a hora de enfrentarmos a tarefa mais árdua de todas, que é a da recuperação da credibilidade. Para isso faz-se necessário a (re)construção de novos conceitos e de novos paradigmas. Nunca foi tão verdadeira a premissa de que contra fatos não há argumentos, portanto não é preciso fazer exegeses mais complexas, para afirmarmos, ou melhor, reafirmarmos aquilo que historicamente sabíamos, qual seja, que o “ Deus – Mercado “ não se auto-regula por si só e, muito menos tem a solução pra todas as mazelas do mundo. Isso posto , não queremos fazer disputa, nem cabe a nós fazermos enfrentamentos de correntes do pensamento econômico, apenas, mais uma vez, de forma singela, registramos que historicamente e, hoje, mais do que nunca, é imperativo a presença do Estado na regulação das relações interpessoais, sociais, políticas e econômicas. Os arautos do liberalismo econômico, desde Adam Smith chegando aos messiânicos neoliberais tupiniquins, quando defendem o estado mínimo, e julgam que faz parte do “jogo” socializarmos prejuízos e privatizarmos lucros, não o fazem isso movido pela construção do bem comum, pois esses são os mesmos que preconceituosamente, tentam rotular o combate à fome e a distribuição de renda como algo populista. Não poderiam ter outros valores mesmo, pois quando defendem a ausência do Estado, tornam evidente que não sabem e, não querem saber, que os interesses coletivos não podem ser preteridos em detrimento do egoísmo e da ganância de uma casta de “iluminados”.
Certamente, o tempo aliado ao sacrifício de muitos, especialmente daqueles que não contribuíram pra essa situação (trabalhadores/consumidores ), nos levará a superarmos mais uma crise. A resultante positiva de tudo isso, inexoravelmente, será a do nascedouro de um novo modelo para o sistema financeiro mundial, onde haja regulação e Estado, sim!
Pois, como muito bem nos ensina o professor Carlos Lessa – “ Toda crise é um produto histórico único. As crises não se repetem, elas se sucedem “.
ADRIANO VARGAS DE OLIVEIRA
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